terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Novo



Esse adjetivo nos atrai de uma maneira irresistível. O carro novo, o trabalho novo, o amor novo. Novo! Nos colocamos diante de um novo recomeço. Uma nova chance de fazer diferente, de não incorrer nos mesmos erros que cometemos com o velho carro, o velho trabalho. O velho amor então... mas, inexplicavelmente, tropeçamos nas mesmas pedras que nos derrubaram no velho caminho.

Se pararmos para refletir, veremos que não é tão inexplicável assim que nos atrapalhemos com os mesmos problemas. Isto porque a mudança externa, a mudança de objeto, não abrange a mudança de sujeito. O veículo é novo, o emprego também, novo o relacionamento. Mas o agente não muda. Adentramos ao novo transferindo a este a responsabilidade por mudanças que deveriam ocorrer de dentro para fora. O essencial, que deveria mudar, persiste. Com os mesmos vícios irrompemos ao novo.

Não é surpreendente que erremos mais uma vez. Imagine um belo jarro ao qual deitamos vinho intragável. Muda-se o rótulo, renova-se o vasilhame, mas o conteúdo continua o mesmo. Eis aí o que deveríamos compreender: de nada nos adianta mudanças externas se nós não mudarmos. E como é difícil abandonar os velhos hábitos. Como é difícil assumir uma outra postura diante das coisas.

Em contrapartida ao novo que se avizinha, deveríamos oferecer o nosso novo. Renovo, na verdade. Vamos romper com os velhos preconceitos. Quebremos as velhas algemas que nos aferrolham a mente e a alma. Deixemos de lado os velhos posicionamentos infrutíferos e retrógrados. E assim nos reapresentemos. Aprendamos de novo, da maneira certa, a forma correta e precisa, livres da cegueira causada pelas nossas imperfeições.

Talvez seja querer demais. É exigir muito em face da confortável possibilidade de nos mantermos inertes, no comodismo de nossa inação. Me “inclua” fora dessa, dirão alguns. E sem nos limparmos, ainda senhores e orgulhosos de nossas imundícies, vestimos a nova roupa e disfarçamos o mau cheiro com algum odorante artificial. Explosões de cores resplandecem no céu. Sobre o velho e sulcado rosto, nova máscara reluz.

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