domingo, 13 de dezembro de 2009

Ciúmes

- Precisava dançar daquele jeito?
- Que jeito?
- Ah não se faça de besta...

Esse caso era recente, mas já era muito intenso. Trabalhavam na mesma repartição e eventualmente se reuniam depois do expediente pra discutir alguma coisa. Depois ainda uns drinques, que ninguém é de ferro.

-Eu vi bem a maneira como você se esfregava...
-Mas é uma festa, querida, as pessoas dançam e...
-Mas não você, não assim. Podia ter pelo menos um pouco de consideração comigo.

Conversavam de tudo um pouco. Soube que ela era solteira e não gostava de se envolver. Morava sozinha, se virava. Os homens em geral são todos uns tolos possessivos, disse. E as coisas foram acontecendo. Quem sabe essa amizade não poderia evoluir pra algo mais, ela perguntou. Falou a ela do casamento, dos filhos, que não estava em questão abrir mão de nada. Um casamento de muitos anos, uma vida estável. Um filho e uma filha. Intocáveis.

-Então vamos fazer assim, voltamos pra festa, eu não danço mais. Invento alguma desculpa, mas vamos voltar. Já, já darão por nossa falta.

Cenas de ciúme não eram hábito. No geral, ela era bem tranqüila.

- Vamos, vamos então – abriu a bolsa, espelhinho, batom, ajeitou o cabelo – ah, tem mais uma coisa...

- Que é? – sempre tinha mais alguma coisa.

- Fala para o seu marido parar de me secar, por favor. Cara indiscreto, credo...

- Tá, tá. Agora vamos que minha filha já tá me ligando...

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Laurindo. Gostei muito dos teus textos e do teu jeito de lidar com as palavras. Já visitei e adicionei teu blog à minha lista. E claro, também fico feliz que tenha gostado e adicionado o meu blog. Abraços e até as próximas postagens! rs..

Laurindo Fernandes disse...

Obrigado pela visita. Que bom que gostou. Volte sempre.

Teoliterias disse...

Fala Laurindo
Até que enfim achei seu blog
E não poderia ter tido melhor encontro com teus textos, já que a expectativa foi grande
Você é mais um daqueles obstinados, que lutam pela palavra viva, aquela que pulsa de forma significativa, que emana poder;
Gostei desta crônica e estou lendo os outros textos;
sua afinidade com o texto é muito grande;
se desculpe a metáfora chula
"igual a pinto no lixo" rsrsrs

um grande abraço e já vou adicionar seu blogue

parabéns por este espaço

WiIliam R Grilli Gama disse...

Muito bom o texto... inventivo, criativo... longe de ter um final previsível. Leitura leve e descontraída. Muito bom.