quinta-feira, 28 de abril de 2011

Do tempo

Elevei-me de seu amor ao ápice embriagante
Em óbice à solidão de minhas noites
Repleto de esperanças  atirei-me crente
Que de tal amor não levaria açoites.

Mas tão logo dei por mim assim estava
Genuflexo abatido outra vez ao solo
De ti nem uma palavra ou um gesto nada
Apenas negaste ao enamorado o colo.

O tempo passou inexoravelmente
E agora ao te ver não inebriante
Não entendo onde meu coração estava.

O tempo faz-nos isto, está em seu cerne
De um sentimento atroz uma lufada
Ao ver-te hoje, o ontem tudo, fez-se nada.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Entardecer

                                Da varanda olhava a rua, era tarde. Algumas crianças corriam de lá pra cá num ir e vir sem fim. Lembrou-se de seus filhos. A correria e algazarra que tanto o irritavam. Molecada infernal dos diabos. Odiava. As vezes chegava com algum negócio mal resolvido e encontrava a meninada na rua no corre-corre típico das crianças saudáveis. Entrava em casa e chamava os seus, que vinham cabisbaixos sabendo que era pêia na certa. Dava-lhes uma sova das boas. Ora essa, filho meu a essa hora na rua? Mas nem. E a cinta cantava nos lombos dos infelizes.

            Agora, achava graciosa a inquietude das crianças. Também, a essa altura do campeonato, não haveria nada que o pudesse mais aborrecer. O sol se punha, sendo tragado lentamente pela noite. Os anos passaram e os filhos se foram, um para cada lado. A esposa sucumbira à idade e enfermidades várias que a abateram ao longo da jornada. Enfim, só.

            Podia agora pensar que perdera tempo. Se lhe fosse permitido voltar atrás, o que faria? Ah, vai saber. Talvez agisse da mesma maneira. Talvez sofrer não faça as pessoas mudarem. Pelo menos não pra melhor. Por isso chamamos de amarguras da vida aqueles reveses da sorte que em algum momento estalam a mão espalmada em nossa cara. Amarguras, não doçuras. Ora, não há de se querer que o espírito fique doce após ser tomado pelo fel da dor.
           
            Mas era tarde e o sol despencava no horizonte. A gurizada elétrica na rua. Menos um dia na face desta terra. A noite chegou.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

E depois de Angélica...



                     Em recente entrevista concedida a revista Veja, ao falar do começo de sua carreira, a apresentadora Angélica pergunta ao jornalista: “Você conhece Ariquemes? Fica no fim do mundo, à direita”. Essas palavras geraram alguma indignação no povo rondoniense, e por aquela semana, muitos apresentadores de programas locais teceram comentários a respeito do que ela disse, nas escolas os professores comentaram com os alunos, era o assunto das rodas de amigos. Ariquemes fica aqui, em Rondônia, que na concepção da apresentadora, é o fim do mundo. Ninguém gostou da comparação.
            Agora, temos rolando aí na rede um vídeo, onde o apresentador Rafinha Bastos detona o povo rondoniense. No vídeo, que foi gravado numa das apresentações do show “A arte do insulto”, o humorista fala da feiúra do povo rondoniense, e aconselha que usemos isso ao nosso favor, trazendo para cá as pessoas que estão se sentindo mal, para que elas, ao ver-nos, se sintam melhores. Depois diz que já sabe onde o cantor Belo nasceu, já que ele devia se chamar de feio-pra-cacete. Numa parte da apresentação onde ele diz que estava assistindo tevê de madrugada e, num desses programas evangélicos, um homem estava possuído pelo demônio, e este falava através daquele, em português. Rafinha então teve um estalo: se o diabo fala português, então já sabia de que estado ele vinha: Rondônia. Acrescenta ainda que aqui o encardido deixou muitos filhos. “Se Deus é brasileiro, saibam que ele sacaneou Rondônia.” 
            Domingo último, dia 10, eu estava assistindo uma reprise do programa “Quinta categoria” na MTV. Em um dado momento, é escolhido um participante, que tem sua história recontada no palco, pelos apresentadores. Dessa vez, o escolhido foi um jovem que queria ser ator, e era do Acre. Na seqüência, os atores começam a encenar de improviso, a história do rapaz que veio do Acre, com o intuito de ser ator. E a humorista Tatá Werneck começa: “Da ilha do Lost, chamada Acre, fulano sonha em ser ator. Ele e sua companheira macaca Jane”. Não me recordo muito bem se o nome dado a macaca foi este mesmo, nem o nome do rapaz, mas não me esqueço da comparação entre o Acre e a Ilha do Lost.
            Olhando esses últimos comentários a respeito desses dois estados da região norte, Acre e Rondônia, percebe-se a imagem que ainda se tem de nós na região sul e sudeste: aqui é o fim do mundo, mais longe que a ilha do seriado Lost, onde homens sonham em ser mais que selvícolas, cujos animais de estimação são macacos. Moramos num estado tropical sacaneado por Deus. Feios feito o diabo. Uma viagem a nosso estado deveria ser receitada às pessoas com problemas de baixa estima; elas se sentiriam melhor ao ver o quanto somos feios.
            Poderia se dizer que nos casos do Rafinha Bastos e do Programa Quinta Categoria, por tratarem-se de programas humorísticos, há de se levar na esportiva, e rir junto, e muito, com a platéia. Mas eu, particularmente, não sou adepto ao humor a qualquer custo, na base da ofensa, do humor pejorativo, calcado no preconceito. Existem outras maneiras de fazer humor, e isso outros tantos humoristas tem demonstrado, pois o fazem sem ofender a ninguém.
            A meu ver, não teve graça nenhuma.