quarta-feira, 13 de abril de 2011

E depois de Angélica...



                     Em recente entrevista concedida a revista Veja, ao falar do começo de sua carreira, a apresentadora Angélica pergunta ao jornalista: “Você conhece Ariquemes? Fica no fim do mundo, à direita”. Essas palavras geraram alguma indignação no povo rondoniense, e por aquela semana, muitos apresentadores de programas locais teceram comentários a respeito do que ela disse, nas escolas os professores comentaram com os alunos, era o assunto das rodas de amigos. Ariquemes fica aqui, em Rondônia, que na concepção da apresentadora, é o fim do mundo. Ninguém gostou da comparação.
            Agora, temos rolando aí na rede um vídeo, onde o apresentador Rafinha Bastos detona o povo rondoniense. No vídeo, que foi gravado numa das apresentações do show “A arte do insulto”, o humorista fala da feiúra do povo rondoniense, e aconselha que usemos isso ao nosso favor, trazendo para cá as pessoas que estão se sentindo mal, para que elas, ao ver-nos, se sintam melhores. Depois diz que já sabe onde o cantor Belo nasceu, já que ele devia se chamar de feio-pra-cacete. Numa parte da apresentação onde ele diz que estava assistindo tevê de madrugada e, num desses programas evangélicos, um homem estava possuído pelo demônio, e este falava através daquele, em português. Rafinha então teve um estalo: se o diabo fala português, então já sabia de que estado ele vinha: Rondônia. Acrescenta ainda que aqui o encardido deixou muitos filhos. “Se Deus é brasileiro, saibam que ele sacaneou Rondônia.” 
            Domingo último, dia 10, eu estava assistindo uma reprise do programa “Quinta categoria” na MTV. Em um dado momento, é escolhido um participante, que tem sua história recontada no palco, pelos apresentadores. Dessa vez, o escolhido foi um jovem que queria ser ator, e era do Acre. Na seqüência, os atores começam a encenar de improviso, a história do rapaz que veio do Acre, com o intuito de ser ator. E a humorista Tatá Werneck começa: “Da ilha do Lost, chamada Acre, fulano sonha em ser ator. Ele e sua companheira macaca Jane”. Não me recordo muito bem se o nome dado a macaca foi este mesmo, nem o nome do rapaz, mas não me esqueço da comparação entre o Acre e a Ilha do Lost.
            Olhando esses últimos comentários a respeito desses dois estados da região norte, Acre e Rondônia, percebe-se a imagem que ainda se tem de nós na região sul e sudeste: aqui é o fim do mundo, mais longe que a ilha do seriado Lost, onde homens sonham em ser mais que selvícolas, cujos animais de estimação são macacos. Moramos num estado tropical sacaneado por Deus. Feios feito o diabo. Uma viagem a nosso estado deveria ser receitada às pessoas com problemas de baixa estima; elas se sentiriam melhor ao ver o quanto somos feios.
            Poderia se dizer que nos casos do Rafinha Bastos e do Programa Quinta Categoria, por tratarem-se de programas humorísticos, há de se levar na esportiva, e rir junto, e muito, com a platéia. Mas eu, particularmente, não sou adepto ao humor a qualquer custo, na base da ofensa, do humor pejorativo, calcado no preconceito. Existem outras maneiras de fazer humor, e isso outros tantos humoristas tem demonstrado, pois o fazem sem ofender a ninguém.
            A meu ver, não teve graça nenhuma.

2 comentários:

Fabrício Andrade disse...

Laurindo, li o texto. O cara é um babaca, sempre achei isso, mas, nesse caso do DVD, ele escolheu Rondônia para sacanear, como poderia ter escolhido outro lugar. Também não gosto desse tipo de humor.Nele se tem o forte preconceito. É igual quando as pessoas riem da desgraça alheia, da queda, do tombo do amigo, coisas assim. Não curto isso também. Há maneiras muito mais inteligentes de fazer humor. Esse ácido e politicamente incorreto não combina comigo. Um abraço. Parabéns!

William R Grilli Gama disse...

Eu tendo a meio que discordar.
Eu achei engraçado e ri demais.
O politicamente incorreto é muito mais interessante que o politicamente correto. E daí nós temos a piada do gaúcho, a piada do português... ou mesmo a piada que muitos em Rondônia adoram fazer com o Acre.
Assim como ele falou Rondônia, poderia ter falado do Pará ou de Roraima... no fim das contas, foi só piada... e eu ri! Muito!