domingo, 31 de janeiro de 2010

Menino


Na serraria, todo sábado era dia de pagamento. O menino começara naquela semana e iria receber pela primeira vez. Era seu primeiro emprego, aos doze anos. Ganharia  alguns cruzeiros por semana, menos que a metade que pagavam a um adulto. 

Mas ele já tinha olhado lá na mercearia o que dava pra comprar: uma bola dente-de-leite e um carrinho de plástico, com rodas de verdade. Não se desfaria de seu caminhãozinho de madeira com cabines e molejos de lata de óleo e pneus recortados de chinelos. Carrinho e bola ele não tinha não.

Viu outros carrinhos de metal que abriam as portas e o capô, mas eram muito caros. Viu também bolas em couro, mais caras ainda que os tais carrinhos metálicos com portas e capôs móveis. Iria de dente-de-leite mesmo e carrinho de plástico.

Recebeu e se mandou para a mercearia, dali a pouquinho já estava no portão de casa. A mãe fazendo o almoço no fogão a lenha que ficava num puxadinho encostado na casa de madeira. O menino entregou a ela a sacola com o resultado de sua semana de trabalho.
  
A mãe apanhou a sacola. Não estavam ali a bola nem o carrinho que ele dissera que compraria: ali estavam um frango e um quilo de batatas.




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Um comentário:

Fabrício Andrade disse...

Ehh, Laurindo. Que história bonita. Você conseguiu me emocionar agora. Obrigado.